terça-feira, 11 de agosto de 2009

Amor é fogo que arde sem se ver


“Amor é fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer.

É um não querer mais que bem querer;
É um andar solitário entre a gente;
É nunca contentar-se de contente;
É um cuidar que se ganha em se perder.

É querer estar preso por vontade
É servir a quem vence o vencedor,
É ter com quem nos mata lealdade.

Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade;
Se tão contrário a si é o mesmo amor?”

Luis de Camões

domingo, 9 de agosto de 2009

Orfeu e Eurídice



ORFEU, O FILHO DA MUSA Calíope, era o mais talentoso músico que já viveu. Quando tocava sua lira, os pássaros paravam de voar para escutar e os animais selvagens perdiam o medo. As árvores se curvavam para pegar os sons no vento. Ele ganhou a lira de Apolo; alguns dizem que Apolo era seu pai.
Orfeu era casado com Eurídice. Mas Eurídice era tão bonita que atraiu um homem chamado Aristeu. Quando ela recusou suas atenções, ele a perseguiu. Tentando escapar, ela tropeçou em uma serpente que a picou e a matou.
Orfeu ficou transtornado de tristeza. Levando sua lira, foi até o Mundo dos Mortos, para tentar trazê-la de volta. A canção pungente e emocionada de sua lira convenceu o barqueiro, Caronte, a levá-lo vivo pelo Rio Estige. A canção da lira adormeceu Cérbero, o cão de três cabeças que vigiava os portões; seu tom carinhoso aliviou os tormentos dos condenados.
Finalmente Orfeu chegou ao trono de Hades. O rei dos mortos ficou irritado ao ver que um vivo tinha entrado em seu domínio, mas a agonia na música de Orfeu o comoveu, e ele chorou lágrimas de ferro. Sua mulher Perséfone, implorou-lhe que atendesse ao pedido de Orfeu. Assim, Hades atendeu seu desejo. Eurídice poderia voltar com Orfeu ao mundo dos vivos. Mas com uma única condição: que ele não olhasse para ela até que ela, outra vez, estivesse à luz do sol.
Orfeu partiu pela trilha íngreme que levava para fora do escuro reino da morte, tocando músicas de alegria e celebração enquanto caminhava, para guiar a sombra de Eurídice de volta à vida. Ele não olhou nenhuma vez para trás, até atingir a luz do sol. Mas então se virou, para se certificar de que Eurídice estava seguindo-o.
Por um momento ele a viu, perto da saída do túnel escuro, perto da vida outra vez. Mas enquanto ele olhava, ela se tornou de novo um fino fantasma, seu grito final de amor e pena não mais do que um suspiro na brisa que saía do Mundo dos Mortos. Ele a havia perdido para sempre. Em total desespero, Orfeu se tornou amargo. Recusava-se a olhar para qualquer outra mulher, não querendo se lembrar da perda de sua amada. Furiosas por terem sido desprezadas, um grupo de mulheres selvagens chamadas Mênades caíram sobre ele, frenéticas, e o despedaçaram. Jogaram sua cabeça cortada no Rio Hebrus, e ela flutuou, ainda cantando, "Eurídice! Eurídice!"
Chorando, as nove musas reuniram seus pedaços e os enterraram no Monte Olimpo. Dizem que, desde então, os rouxinóis das proximidades cantaram mais docemente do que os outros. Pois Orfeu, na morte, se uniu a sua amada Eurídice.
Quanto às Mênades, que tão cruelmente mataram Orfeu, os deuses não lhes concederam a misericórdia da morte. Quando elas bateram os pés na terra, em triunfo, sentiram seus dedos se espicharem e entrarem no solo. Quanto mais tentavam tirá-los, mais profundamente eles se enraizavam. Suas pernas se tornaram madeira pesada, e também seus corpos, até que elas se transformaram em silenciosos carvalhos. E assim permaneceram pelos anos, batidas pelos ventos furiosos que antes se emocionavam ao som da lira de Orfeu, até que por fim seus troncos mortos e vazios caíram ao chão.

Enéias no mundo dos mortos



Enéias, filho da deusa Vênus e do humilde pastor de Tróia, Anquises, é conhecido como o pai dos romanos. Ele foi um dos grandes guerreiros da cidade de Tróia, sitiada pelos gregos durante muitos anos. Quando os gregos capturaram a cidade, ele escapou, carregando o pai nas costas. Depois de uma longa caminhada, chegou à Itália.
No caminho, Enéias passou por muitas aventuras. Seu pai, Anquises, morreu; ele amou e perdeu a rainha Dido, de Cartago. Mas em todos os momentos a vontade dos deuses, e seu próprio grande destino, o guiou.
Aconteceu que, em sua jornada, Enéias e seus navios chegaram a Cuma onde Sibila morava em sua caverna, dizendo as profecias do deus Apolo em uma voz que ecoava pelas centenas de bocas da caverna. O templo de Apolo em Cuma foi encontrado por Dédalo , no lugar onde ele aterrissou depois de seu vôo desde Creta. Foi o próprio Dédalo quem forjou as portas de ouro do templo, com todas as cenas da historia do rei Minos, a rainha Pasífae e o Minotauro. Todas as cenas, menos uma. Duas vezes Dédalo tentou mostrar a queda de seu filho Ícaro, mas suas mãos tremeram muito e ele não conseguiu.
Enéias encontrou Sibila, e ela respondeu a suas perguntas sobre o futuro. Então ele perguntou: "É verdade que o portão do Mundo dos Mortos é aqui? Pois eu gostaria de olhar mais uma vez o rosto do meu pai."
Sibila respondeu: "A porta do Mundo dos Mortos está sempre aberta e é fácil passar por ela. Mas voltar é difícil. Se você for, leve um ramo de ouro do bosque sagrado como oferenda para Prosérpina, rainha do Mundo dos Mortos. Eu lhe guiarei".
Enéias pegou o ramo, que brilhou enquanto eles entravam no buraco negro de onde o ar envenenado do Mundo dos Mortos sai para o céu aberto. Caronte, o severo barqueiro, levou-os pelo Rio Estige, que cerca o Mundo dos Mortos.
No reino escuro, Enéias viu muitos a quem conhecia – até Dido, sua amada, mas não podia lhe falar. Ele passou pelas punições eternas de Tártaro, e finalmente chegou aos prados abençoados dos Elísios. Ali, encontrou o fantasma de seu pai.
"Pai", gritou Enéias, "deixe-me abraçá-lo". Mas quando ele pôs os braços ao redor de Anquises, foi como tentar agarrar a névoa.
Perto deles, Enéias viu inúmeras almas sofregamente bebendo das águas do esquecimento do Rio Lete.
"Por que as almas querem se esquecer desse lugar maravilhoso e voltar à dura vida do mundo?", perguntou.
Anquises respondeu: "No começo, tudo era puro espírito. Um pouco desse espírito se consome no corpo de cada pessoa. Mas somos destinados à vida, compelidos pelo amor e pelo temor. Poucas almas desejam permanecer nesses campos até que o círculo do tempo se complete, quando nos transformaremos em puro espírito outra vez. A maioria das almas anseia, mais cedo ou mais tarde, pelo céu aberto, e vêm para beber o esquecimento e nascer outra vez".
Anquises então mostrou para Enéias uma visão gloriosa: a nobre raça de seus descendentes. Anquises disse que eles se chamariam Romanos e criariam um grande império que duraria centenas de anos. Finalmente, pai e filho tiveram de se separar. Enéias e Sibila tomaram o caminho de volta à terra da vida, enquanto Enéias meditava sobre o magnífico destino que os deuses haviam lhe outorgado.

quarta-feira, 15 de julho de 2009

Lenda Árabe



Diz uma linda lenda árabe que dois amigos
viajavam pelo deserto e em um determinado
ponto da viagem discutiram.
O amigo ofendido, sem nada dizer,
escreveu na areia:

HOJE, MEU MELHOR AMIGO ME BATEU NO ROSTO.

Seguiram e chegaram a um oásis
onde resolveram banhar-se.
O que havia sido esbofeteado começou a
afogar-se sendo salvo pelo amigo.
Ao recuperar-se pegou um estilete
e escreveu numa pedra:

HOJE, MEU MELHOR AMIGO SALVOU-ME A VIDA.

Intrigado, o amigo perguntou:

Por que depois que te bati,
você escreveu na areia e agora que te salvei,
escrevestes na pedra?

Sorrindo, o outro amigo respondeu:

Quando um grande amigo nos ofende,
devemos escrever na areia onde o vento
do esquecimento e do perdão se encarregam de apagar.
Porém quando nos faz algo grandioso,
devemos gravar na pedra da memória e do coração;
onde vento nenhum do mundo poderá apagar.
Desconhecido

domingo, 5 de julho de 2009

Mar Português


Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!

Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma nao é pequena.

Quem quer passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu.

Fernando Pessoa

NOVAS REGRAS DA LÍNGUA PORTUGUESA


NOVAS REGRAS DA LÍNGUA PORTUGUESA
(Parte I)

Hiato

Nova regra
Os hiatos “oo” e “ee” não serão mais acentuados
Como é
enjôo, vôo, perdôo, abençôo, povôo, crêem, dêem, lêem, vêem, relêem
Como será
enjoo, voo, perdoo, abençoo, povoo, creem, deem, leem, veem, releem

Trema

Nova regra
Não existirá mais o trema na língua portuguesa. Será mantido apenas em casos de nomes estrangeiros. Exemplo: Müller, mülleriano.
Como é
Agüentar, conseqüência, cinqüenta, freqüência, tranqüilo, lingüiça, bilíngüe.
Como será
Aguentar, consequência, cinquenta, frequência, tranquilo, linguiça, bilíngue.


Palavras homônimas

Nova regra
Não existirá mais o acento diferencial em palavras homônimas (grafia igual, som e sentido diferentes)
Como é
Pára/para, péla/pela, pêlo/pelo, pêra/pera, pólo/polo
Como será
para, pela, pelo, pera, polo
Obs 1: O acento diferencial ainda permanece no verbo poder (pôde, quando usado no passado) e no verbo pôr (para diferenciar da preposição por).
Obs 2: É facultativo o uso do acento circunflexo para diferenciar as palavras forma/fôrma. Em alguns casos, o uso do acento deixa a frase mais clara. Exemplo: Qual é a forma da fôrma do bolo?

sábado, 20 de junho de 2009

A Hora da Estrela


A Hora da Estrela

Clarice Lispector

Do Stockler Vestibulares*

Rodrigo S.M., o narrador, constitui um dos personagens centrais de "A Hora da Estrela", de Clarice Lispector. Ao mesmo tempo em que cria e narra a vida de Macabéa, identifica-se com ela, mesmo quando a agride. Dessa forma, você já deve ter percebido que o texto é metalingüístico: um autor - narrador que fala de sua própria obra e busca nela e com ela conhecer-se e reconhecer-se.

Macabéa é alagoana, virgem, ignorante, tem dezenove anos e diz-se "datilógrafa". Veio para o Rio de Janeiro com uma tia que cuidara dela desde os dois anos de idade. Quando a tia morre, Macabéa muda-se para um quarto que divide com quatro moças que trabalhavam nas Lojas Americanas: Maria da Penha, Maria Aparecida, Maria José e Maria.

Raimundo, o patrão de Macabéa, avisa-lhe que será despedida (Macabéa errava demais na datilo­grafia, ficará apenas com Glória (a colega de Macabéa na firma e que se considerava sensual e bonita). Macabéa gostava de ouvir a Rádio Relógio porque os locutores falavam "palavras diferentes" embora ela desconhecesse os significados e não soubesse o que fazer com as informações.

Um dia em que chovia muito, Macabéa encontrou Olímpico de Jesus que se apresentou como Olímpico de Jesus Moreira Chaves, metalúrgico, paraibano. Os dois apresentam ruídos no processo de comunicação: ela por não saber e não ter o que dizer e ele por se sentir superior, principalmente em relação ao aspecto lingüístico, porém pouco sabia. Olímpico era ambicioso, era capaz de qualquer ato para ascender socialmente. Até que ele conhece Glória e resolve afastar-se de Macabéa.

Com o rompimento, Macabéa compra um batom vermelho, pinta os lábios no banheiro da firma em busca da identidade desejada: a atriz Marilyn Monroe. Glória zomba da colega, contudo resolve convidá-la para um lanche em sua casa no domingo. Em seguida, indica-lhe um médico.

O médico, que não gostava de trabalhar com pobres e para pobres, distrata Macabéa e ela, mesmo assim, agradece. Constata-se que Macabéa está com tuberculose.

Quando ela volta a falar com Glória, esta indica-lhe uma cartomante: Madama Carlota. A cartomante mente para Macabéa que sai de lá convencida de que será outra, de que será feliz e de que encontrará seu príncipe. Ao dar um passo para atravessar a rua, ela é atropelada por um carro Mercedes Benz ouro. Esta é a hora da estrela onde ela será "tão grande como um cavalo morto": ferida de morte, a personagem vomita um pouco de sangue, mas queria ter vomitado "uma estrela de mil pontas". O narrador termina refletindo sobre a morte não só de Macabéa como a dele, mas "por enquanto é tempo de morangos. Sim".


sexta-feira, 29 de maio de 2009



Pela luz dos olhos teus

Quando a luz dos olhos meus
E a luz dos olhos teus
Resolvem se encontrar
Ai que bom que isso é meu Deus
Que frio que me dá o encontro desse olhar
Mas se a luz dos olhos teus
Resiste aos olhos meus só p'ra me provocar
Meu amor, juro por Deus me sinto incendiar
Meu amor, juro por Deus
Que a luz dos olhos meus já não pode esperar
Quero a luz dos olhos meus
Na luz dos olhos teus sem mais lará-lará
Pela luz dos olhos teus
Eu acho meu amor que só se pode achar
Que a luz dos olhos meus precisa se casar.

Vinícius de Moraes